terça-feira, 12 de outubro de 2010

ESCREVER UM POEMA...

Escrever um poema...
Não mudar uma linha sequer de pensamento.
Escrever - porque a vida agora vale a pena,
a vida, mais destemida,
eu mesmo sei que é incontrolável.

Não se importar se tudo com que sonhamos se tornou casulo.
Fazer, porque custa menos que limpar.
Não ter certeza, até que mais alguém não sinta o próprio peso

das mãos, e não nos deseje algum mal.
(Introduzir-lhes uns sonhos leves.)
Esquecer depois por que.

ALGUNS DESEJOS QUE COMPARTILHAMOS FORAM DIVIDIDOS

Alguns desejos que compartilhamos foram divididos.
Cederam os meus ou emprestaram-nos aos necessitados.
Coisas do tipo:
                                                                  — Você será feliz!
Não são manifestáveis. E eu creio
que o restante do Hoje guarda surpresas.

O dia parece começar mais cedo
quando o sono exausta.
Cedo liberto, cedo dormido… 

Acaricia as nuvens uns olhos petrificados.
As nuvens apreendem o desenho das ideias,
as nuvens me petrificam.

Quase a Ideia do coração em mim
quase agora em mim.

Será doravante o outono? O inverno?
Será um caso de amor mal resolvido
o estigma das nuvens?

O QUE EU QUERO É FAZER A POESIA

O que eu quero é fazer a poesia.
O que eu quero é transbordar a poesia
                                                             que machuca.
Quero que tenha um gosto de coisa
sem o ser deveras coisa.
Que possa ser cantada na praça, possa ser
roubada e consumida ainda que o prazo
de validade esteja vencido.
Durará quanto, afinal?
Perderei quantos amigos para a ter entregue às nuvens?
Perderei os dias a criar paragens...
O que eu quero é fazer a poesia.