sábado, 12 de março de 2011

A QUEM VOCÊ AMA

A quem você ama pedem que esqueça: teve você o infortúnio de não ser correspondido no amor, ou por não ser o primeiro da lista, ou porque não exista uma lista a ser preenchida. Deixemos de lado os possíveis motivos, vários, mas insignificantes. O que importa agora é que está tudo errado, tudo acabado. Tudo. Seu mundo parece o sufocar. O peito dói como se você estivesse tendo um infarte, ataque cardíaco, ou coisa pior. “Pior?! O que pode ser pior que dor de amor?” Ah, não conseguiu deixar de pensar nela nem quando seu carro bateu no carro da frente, o sinal fechado, e você ouviu os xingamentos mais abomináveis da sua vida como se fossem elogios. Acredite, o amor nos deixa cegos e surdos. Às vezes até podem matar.
O carro, diga-se de passagem, era da firma...
Sim, está claro, você a ama como nunca amou ninguém, nem vai encontrar melhor. Mamãe fica em primeiro lugar, claro, é imbatível. Mas Ela vem logo em seguida. Eu sei como é, amigo! Se lhe serve de consolo, todos passamos por isso algum dia na vida! Qualquer transeunte que encontre pelas ruas, tendo mais de 15 anos, lhe dará sábios conselhos sobre o mais importante dos temas da humanidade: o Amor. Os quais você agradecerá e guardará na caixinhas de conselhos recebidos, seção aqueles-que-não-pedi, subseção lixo.
Conselhos melhores são os dos amigos. Mencione a qualquer deles que isso não deveria estar acontecendo com você, ou que não poderia estar acontecendo com você, e lhe chamam de prepotente, arrogante, e tal. Falam com desdem, torcendo-lhe o nariz: “E por que não a você?! Por acaso é especial, diferente de todo mundo, cara?! Se liga!” Vejam só, incompreendido até pelos amigos, que dizem já terem passado por isso umas cem vezes na vida!
Pensando bem, isso não poderia estar acontecendo com você! Você é legal, bem mais que aquele outro. Se veste bem, paga os ingressos no cinema, se for o caso (ah, tenha certeza que sempre será o caso). Até trabalha na floricultura, ou na loja de bombons. Não tem carro próprio, é verdade. Nem bicicleta. Mas vai se esforçar para comprar uma moto, dentro de uns cinco ou seis anos, se os pais ajudarem.
Meu Deus! Meu Deus! Antes existisse uma vacina contra o Amor! Pronto! Ninguém mais amaria. Todo mundo se deitaria junto, faria o serviço, e tchau! Adeus!
Ei, você quer deitar comigo, só sexo, sem telefone amanhã, prometo.”
Demorô, cara!”
Boas ideias que não se realizarão.
Afinal, existe alguma vacina contra dor-de-cotovelo? Creio, sim, que deveríamos nascer com uma sirene dentro da cabeça, que nos avisasse de antemão que dali não sairá nada. “Atenção, atenção!!! Não se aproxime!!! É fria!!!” Evite-a, pois, ao máximo. Se ela quiser ser sua amiga, faça-se de chato, fale de temas que você aprendeu a pouco mas já é expert, como fissão nuclear, balística ou juros compostos. Estará lascado se ela souber de algumas dessas coisas, e como ela é perfeita, certamente saberá. O jeito então é ignorá-la, ignorá-la enquanto pode, para não ser obrigado a ignorá-la três meses depois, em prantos, nos botecos. Ou no mecânico.
(Alguns setores de RH são ótimos, deixam a gente se explicar bem e pagar os reparos em suaves prestações.)
E daí que ela não lhe ama? Se é pra sofrer por algo, e por alguém, que seja por Amor, e por Ela. São coisas que valem a pena. Sofre mesmo quem nunca experimentou. Digo, não experimentou o Amor, não a ela, entenda.
Se formos otimistas, são várias as possibilidades. Algum dia Ela poderá vir a gostar de você. Tudo nesse mundo é possível, não se esqueça! E nunca diga nunca! Pense que ela poderá se ajoelhar aos seus pés, lhe convidando para viverem idílios eternos. Queira Deus que você já esteja em outra, aí terá o gostinho de lhe dizer: “Não posso!” Que maravilha!
Ou você poderá largar a outra, ficar com esta (a primeira a gente nunca esquece), virar gerente na firma, ter muito filhos, que algum chorarão por amor e receberão ótimos conselhos seus. O primeiro é: faça seguro do carro.