quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

HOJE A PENUMBRA ESCONDE O GRANDE SORRISO DA AURORA

I

Hoje a penumbra esconde o grande sorriso da aurora.
Se não há o momento a ser cantado, versos fúteis,
mais fúteis que qualquer sentido para a vida...
Se não há cantares,
porque tudo que aprendi, que ouvi, que acreditei
é sempre censurável, unilateral, como os defeitos
indecentes, retornando...

Apagaram o que supus da terra inabalável, selvagens gotas de orvalho e pólipos de anil.
Pseudo aventura, os semblantes velhos conhecidos...

Por que morrer lutando a etérea desgraça?
Oh, estou me agradecendo?!
Eu?! que fiz tão pouca coisa na vida.
Substancioso, em volta de mim o mato cresce e alimenta... Meras permutas...
Calo-me também mas por que há só silêncios?

II

Um rastro de sol atravessa o jardim,
vem pousar nos meus pés amigos.
E as montanhas? Que dizer das montanhas que os pintores da praça
não querem eternizá-las?

Olhava as estrelas, sem passarela.
A infância,
a que todos odeiam,
se não tive melhor,
que fique bem claro,
eu a amava já que pensava em morte.
A lua andava rente
aos olhos do sonhador
e entre amigos assim numerosos chegou à esquina,
à esquina de peito aberto.

Pois saibas: desejo elevar-me às estrelas mas não quero as constelações.

Nem em um milhão de anos preciso versos bem cuidados.

E no fogo agudo das entranhas quero apenas suplantar a maldição de ter nascido como as
                                                                                                                                  [borboletas,
inebriado,
e como as mariposas,
devedor.

III

Das aves de asas tortas respiro as agonias.
Transpiro pétalas, companheiras das lágrimas.
Há em mim um vale de lágrimas e poças de lama e cimento.
Embaixo me espera o abismo dos passarinhos.